terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Escrevo contra

a memória é o alvo de todos os meus gestos, de cada palavra que fere e sangra e acende rastilhos de flores e de pedras no meu coração enrugado.
longe está a pequena ilha da infância e a casa plural da juventude, o tempo dos suspiros e das promessas.
já não há asas nas minhas lágrimas e o silêncio escorre pelas paredes. são irmãos, o meu choro parado e a minha reserva, insone e tagarela como as árvores em dias ciclónicos.
encho-a com versos, de boca selada e olhos em branco.
e as estrelas partem da minha noite.
afinal os sonhos têm idade, dizes.
e eu digo: guarda-os em cápsulas de vidro.
tomo as rédeas ao arco-íris do meu passado e sinto-o a abrir os braços para me consolar. mas estilhaça-se num instante, pela acção da tua imobilidade à minha frente.
e ao que flui na sólida tinta do quarto retiro a pontuação. que atiro ao caderno como quem veste muros.
escrevo e escrevo e escrevo. contra o esquecimento.
hoje só a ideia de morte me cala.

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