quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Às asas

imagino a minha voz a subir as tuas escadas.

lá fora as pedras choram e o sol acabou.
aí dentro o gato enrosca-se onde eu gostaria.
e o mundo dá uma resposta concisa à minha demanda.
diz: sobe as escadas.
é uma turba louca, inumerável, que o diz.
e me mostra o que já sei,
que querer-te é tudo o que faço,
e só o desejo de não te querer me ocupa tanto o espírito
como a saudade.

mas eu já não sei como chegar às tuas escadas.
abro as asas e descubro-as mutiladas.

o mundo não percebe nada.
não sabe, como nós, que não te chega
esse quase nada sem tempo nem sossego.
já o conheces e não te serve.
antes a dor.
e as mãos livres.

voar foi-me interdito
no dia em que pediste paz.

caminhar é fácil.

para consertar as asas, preciso de ti.

1 comentário:

Lara disse...

O estranho sentimento da solidão que não nos deixa fazer nada sózinhos...
E a paz que outros tantos pedem, é o pedido que nos deveríamos fazer tantas outras vezes...