domingo, 17 de janeiro de 2010

Subitamente na noite

nunca mais verei o teu rosto. nunca mais como era antes,
como era um minuto antes da separação.
quando o amor ainda prometia algo de bom.

já então não havia possível que te bastasse,
e até a essência dos dias nos separava.
mas ainda sorrias quando concordávamos que talvez o amor fosse mesmo aquele tumulto desejado, que vem sempre quando menos se espera e para o qual nunca estamos preparados.

promessas nunca fizeste, essas são para os românticos e para os mentirosos e tu nunca foste nem uma coisa nem outra.
e soubeste sempre que o amor também vem de onde menos se quer, e que por isso num minuto nos consola,
mas no seguinte já nos consome.
e que nem sempre triunfa, mas inevitavelmente atrai.

agora
é a ausência interminável dos teus olhos.
e ver-te continuamente em pensamento,
com estes lábios cegos que tão facilmente te beijaram
há 700 noites.

esvaziámos o amor de nós,
e agora
é a ausência interminável dos teus olhos.
e uns raios de sol que por vezes despontam
subitamente a um canto do bar. sem medo.

à espreita do meu próximo verso.

1 comentário:

clAud disse...

tenho andado a ler e a reler e a ruminar mesmo o contos do mal errante da mª g. llansol e acontece-me que em todo o lado vou encontrando combinações que me remetem para lá... se calhar gosto de inventar ligações onde nenhuma ligação se adivinha ou adequa.

"O teu rosto lembra-me muitas vezes.
Um rosto, é, apesar de tudo, bem mais, e outra coisa do que uma imagem. Nesse dia, o teu estava calmo, e determinado.
Não me esqueço que preferes que não se fale de ti porque receias uma imagem que te guarde. Mas, com todo o rigor, um rosto que volta é uma imagem que se desfaz." MGL