terça-feira, 31 de agosto de 2010

Fracção

subo as escadas
desta noite de silhuetas recortadas.
não vejo rostos
nem mesmo o teu,
essa presença de cinza
com que desejei pintar os meus dias.
nem vejo horizonte.
só estes degraus contínuos e estes pés a vencê-los.

sei que é da natureza da carne desejar o grito e
do coração procurar o amor.
sei o rumo de alguns rios, um punhado de adivinhas,
como pode doer um abraço.
e sei ainda que cada manhã é única como um ser humano.

de resto
sou só silêncio.
e estes pés em ascensão.

mas às vezes páro e afago as asas
como se ainda as tivesse,
dizem que é comum nos amputados,
e então sorrio e
numa fracção de saudade recordo o teu rosto.
guia-me ao teu inverno, repito.
e tu tornas a dizer, só voo contigo.

eu pestanejo e recomeço a subir.

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