segunda-feira, 5 de março de 2012

O mundo todo para te deitar

nas minhas reais ficções,
sou a projecção verbal do que nem me atrevo a pensar
e enumero
as vezes em que me fingi idiota (era prático e seguro
as cicatrizes acima do tornozelo (chamo-lhes jonas
os sulcos no rosto com o teu nome (dão para plantar oásis
os beijos que me recusaste (retalho-os inteiramente, humanos
os medos atirados para um canto (indiferentes às fotografias.
entro na mesquita como quem vai à discoteca
todas as semanas sem pagar bilhete
nem sequer o consumo mínimo,
e desenlaço um deserto por altar
e estendo tapetes para os joelhos.
e tenho o mundo todo para te deitar
enquanto a água me abençoa o corpo em obras permanentes,
fechado de novo como quando
não me vias.
e digo, não há bairro
alto como esse onde fomos iguais
ao que éramos antes do tejo desaguar no bósforo, dizes tu
(e ignoras o teu amigo de turbante,
cachimbo aceso ao espelho e o coração a transbordar
do copo (como se o amor não coubesse num só mergulho.

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