terça-feira, 27 de março de 2012

Lembro-me da água toda

comprei-te a camisa
num inédito repente
(nunca fui de te vestir se não de lábios
e pedi-te que a usasses
tão rente à pele como eu
.
fazia-te doer, dizias, o coração
como os quadros do Rothko
(de uma só cor roubada à alma
te feriam os olhos
naqueles dias de dezembro americano
.
não liguei. como poderia
se cada um só pode saber
da sua dor e nunca a tua
me chegou aos ossos
(muito menos à respiração
?
despi-te a camisa
(pintada de fresco
e abri-te túneis de humanidade
ternamente
eternamente
a partir do umbigo
...
lembro-me da água toda
cada gota
cada onda
até
(por fim
alcançar o teu fim
.

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