quinta-feira, 4 de julho de 2024

Sem resposta

quando o espelho me pergunta

quantos sonhos tenho por viver

chego-me à frente sem dizer nada

e sorrio-lhe.


ele devolve-me a boca arqueada às avessas, 

os sinais familiares

as velhas rugas de expressão, 

redobradas interrogações.

e reconhece-me.


sabe quem soube sou:

pronuncia o meu nome,

mas não todas as idades que tenho em mim,

apenas aquela que os meus olhos conseguem ver,

nutrida de dores,

desvairada de mágoas,

ainda pulsante e amiúde feliz.


as outras guarda 

para o que está por vir e eu desconheço.


não sei que lhe diga.


os meus lábios tremem,

a minha testa engelha-se 

e as horas passam.

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