quarta-feira, 25 de julho de 2007

Encontro

fomos amantes capazes de voar até sermos amantes a afundar-se, como ilhas de um império decadente, na brancura do colchão.
e então passámos a deslizar de corpo em corpo sem um arranhão na alma, como se acreditássemos na possibilidade de renovar, uma e outra vez, a única sintonia que conhecemos. como se assim celebrássemos esse amor único, todo nosso e secreto e muito antigo, que jamais esquecemos.
este é o passado que temos. já não precisamos dele. por isso empurramo-lo para abismos sensuais e poços de vazio.
mas ele permanece. nítido como nenhum presente, dizível como nenhum futuro.
e nunca passa. apaga-se em certas noites quentes.
mas acende-se de novo quando o sol se levanta e o inverno nos arrefece nas mãos.
ontem esbarrei em ti no intervalo do teatro.
levava a minha última lágrima presa ao fio do pescoço, tu vestias a personalidade germânica das terças e tinhas um saco de canetas ao ombro. olhaste-me com a doçura de um licor de ameixa, eu hesitei entre um sorriso ausente e um gesto de espuma de sabão.
já não cantas, perguntaste.
e eu disse: preciso dos teus ouvidos.
tu abraçaste-me naturalmente antes de regressares à plateia.
eu ofereci-te uma melodia breve com mil dedos dentro e cheiro a pólvora seca.
e um formigueiro de duendes ficou a vibrar no foyer.

2 comentários:

Anónimo disse...

a amar?,como gostava de voar....encontro?não.desennnnncontro (grito!)estou oca,só me apetece gritar.assim fui,assim estou,assim ficarei...que merda! nem com um olhar doce de licor de ameixa me convenciam...
não basta,realmente,saber pintar...gostei kisses mary

Hannanur disse...

Gira, esta tua escrita! Gostei.

Obrigada pela visita e pelo comentário simpático.E sim, guardo todas as vivências na memoria(é o melhor lugar)o sorriso faz parte de mim,e tenho um enorme amor por este lindo país!