terça-feira, 4 de setembro de 2007

Via láctea

pendurei um colar de terra ao pescoço. apertei uma língua de fogo entre as nádegas. pus uma mochila de ar aos ombros. envolvi a cintura num remoinho de água.
e entrei dentro do amor.
do interior desse imenso astro místico com sabor a transparência, espreitei de novo o mundo, seduzida pelos seus artifícios e cores, as suas leis desmedidas de espaço e tempo, a sua orquestra de metais soprados por bocas irascíveis, os seus idiomas e fragrâncias materiais.
e vi-te pela primeira vez.
dentro do amor só havia corredores despidos e tambores e a poeira de estrelas que te servi às colheradas, apenas um instante antes de te abraçar em silêncio para te levar.
mas tu puxaste-me no sentido contrário e começaste a contar-me histórias divertidas.
as sombras frondosas das árvores vigiavam-nos na noite e o teu riso intocável era um murmúrio do lado de fora, incapaz de transpor as portas e derrubar os muros e atravessar as vidraças, tal como eu fiz com a verdade ignóbil dos elementos espalhada pelo corpo, a verdade que depois depus aos pés do cosmos para ser tua.
por ti aceitei a gravidade, os relógios e os átomos, a força, a densidade, o trabalho, a vida. e a via láctea que te vestia os olhos inundou de luz o meu peito.

3 comentários:

JFC disse...

lindo! não sabia que eras poeta...obrigada pela tua visita, agoravou ler o teu blog! :)
jinhos

lamia disse...

Nesta via láctea imensa, o amor é por vezes um viciante buraco negro.

Welcome back.

JFC disse...

Berta, adorei o teu blog, escreves super bem, q inveja...vou deixar uma imagem para ti no eu blog! :)
jinhos