misturaste os pés na água e a cabeça no coração. o mar mostrou-te a eterna agitação do universo e a fragilidade do tempo. a brisa aderiu aos teus cabelos, desenhando-lhes um brilho estival.
e o sol demorou-se na tua pele, o suficiente para te sentires fervilhante como o lume dos olhos das raparigas à conquista dos outros e de si mesmas.
sorriste-me.
e eu sacudi a toalha e o medo para dentro da praia e sorri-te de volta, de rosto mergulhado no teu, a ouvir a tarde a passar num burburinho quase musical.
e nesse instante soube-te minha, como se fosse possível ter alguém. delírio apenas. mas dos que aconchegam a alma.
então
a ranger os dentes e de esperança apertada nos punhos, enfrentei os meus fantasmas. um a um, até só lhes sobrar aquele vago cheiro a mofo de coisa abandonada.
tu fervilhavas ainda quando te revelei os meus segredos.
mas já não sorrias.
nua e inexpressiva na esteira que debroava a duna, de lírio pintado no peito e névoa mística no olhar, viste-me depor as máscaras e virar todas as mentiras do avesso e as dúvidas de pernas para o ar.
do que fui só restou um sonho pulsante e uma cicatriz escarlate.
paro aqui, disse.
e tu, consumida nas chamas da permanência, disseste:
fico em ti.
e no meu corpo te alojaste.
até agora.
mas às vezes sinto que foges em busca de outro fogo. escorregas para o mundo como a areia entre os meus dedos e voas, tornada vento nas janelas entreabertas dos meus dias.
sempre que uma verdade se extingue, há outra que se acende.
e só arde enquanto é nova.
quinta-feira, 17 de julho de 2008
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