sexta-feira, 18 de julho de 2008

Vulcano

conta a lenda que vulcano era coxo. dominava o fogo e esculpia em ferro as faíscas todo-poderosas do seu pai e as armas guerreiras de outros deuses, os seus predilectos do olimpo. artista incompreendido, como todos, irava-se com pouco e vivia consumido pelo ciúme, desejoso de reconhecimento mas frustrado pela indiferença, tanto a celeste como a terrena. a sua deformidade física envergonhava a mãe, juno, que nela via a personificação dos seus erros, e o pai, júpiter, incapaz de entender a imperfeição.
expulso do céu e repudiado por todos os que amava, vulcano procurou consolo na sua arte e energia nas memórias da infância. em vão: o seu coração estava tão corrompido como o seu corpo e demovia-o de qualquer acção generosa. tratava mal a mulher, a bela vénus, por todos os deuses e semi-deuses e homens desejada, porque nunca acreditou na sua fidelidade, muito menos no seu amor incondicional, tão habituado estava a ser traído. e com as suas constantes desconfianças, acabou por empurrá-la para os braços do próprio irmão.
assim pôde reduzir todos os seres às suas perversões, só para elevar-se a si mesmo como o mais virtuoso, puro e belo do universo, apesar da fealdade exterior.
porém, não conseguiu alcançar os seus intentos: os seus motivos nunca foram os mais nobres, a sua arrogante vaidade sempre se sobrepôs aos bons sentimentos.
afinal, ele nunca fora melhor do que os outros, apenas diferente. como eu.
vulcano era coxo.
mas podia ter sido amado. bastava-lhe saber amar de volta.
mas ninguém soube ensinar-lhe como, ninguém soube indicar-lhe o caminho e mostrar-lhe que esse caminho seria mais valioso que a sua arte. que cada passo seu, mesmo manco, trémulo, incerto, dado em sintonia com outro coração, poderia de facto conduzi-lo à felicidade.
como acredito que os meus passos me conduzirão a ela.
se tu souberes guiar-me e eu souber levar-me pela tua mão.

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