quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Carrossel

vens desperta esta noite. os olhos vivos as mãos loquazes
falas dos pobres
das crianças excedentes
de não ter o que comer
da terra que seca e chora
e depois
do privilégio que somos,
e é quase
um assomo de alegria.

vais preparar o chá.
eu mantenho-me a olhar o vazio
genuína na minha ilusão
como carraça agarrada ao que me dás.

afinal não há chá.
nem a música que te apetece. nem rumo para nós.

estão cores ali ao fundo que não vejo,
dizes,
não é minha esta bússola
nem são meus estes sonhos
e estas paredes em branco.

eu oiço-me presa às rodas do desejo
o pensamento em carrossel
o coração desigual.
vejo-te beijar-me como num filme
demoro-me em ti quanto quero
e então digo,
estar a sós materializa o que foste.

1 comentário:

Anónimo disse...

Muito bom