levo-te à praia,
as nossas mãos coladas os pés descalços o frio nos ossos.
é inverno e a ternura invisível no infinito do cosmos.
sabes tudo o que não fazes e gostarias,
o que te sobra no coração e há muito deveria estar extinto.
mas para dizer só encontras o avesso do que sentes.
falas das feras dos dentes do álcool da razão
da neurose social em que vivemos,
das fontes de prazer imediato.
a tua infantil cartilha de valores
a estatelar-se contra a minha inconsequência.
temes a velhice e as dores de cabeça.
as nuvens que se estendem na tua íris
de transparência agasalhada
vendam-te ao sol de janeiro,
o meu corpo em silêncio lembra-te o beijo do rodin
e em surdina ouves dEUS:
nada nunca termina a martelar na tua vontade férrea de mudança.
já na cabana brindamos ao passado.
a minha esperança a prometer o impossível,
a tua sede a contratar os serviços do diabo no fundo do copo.
e o futuro como paisagem de turner,
desfocado a afiar as garras
neste instante em que somos almas concretas
a tocar-se sem horizonte.
o peso do mal que me fizeste tem dez arrobas de profundidade, dizes. e eu digo,
a crueldade é sensual como a preguiça.
deitamo-nos então com essa herança na carne.
o pó celestial que até aqui nos trouxe
faz-se ode branca no tempero do amor
e o suor desliza-nos nos poros
como se adivinhasse o estio que desejámos para os nossos olhos
livres de idílios sonhados que jamais terão lugar no mundo.
e dormimos em concha
com o clamor repetido das ondas aninhado no peito.
domingo, 23 de janeiro de 2011
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