terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

E enfim ponho um sorriso nupcial

nas pequenas dores destas meninas
as minhas penas imerecidas revejo,
e bocejo.

a banalidade do sofrimento
já só me entedia, agora que sei o pouco que se esconde
numa boca minguante para além dos beijos prometidos
e que para nada serve a gangrena nos membros,
a ternura nos braços,
o enjoo no ventre.

(prefiro telas mentirosas, e rosas e rosas.

como não escolher as unhas postiças,
as sedas orientais e os ganchos de cabelo
que elas me largam pela casa,
em vez dos pingentes de espirituosas lágrimas
que tanto anseiam que beba
?
como não mergulhar nas rendas
que sob as minhas botas ardem e pendem das gavetas,
e antes desejar as suaves emulsões
que chamam os meus lábios,
oferendas de pele nua
que é branca e seráfica
mas não tua
?

(prefiro épicos martírios, e lírios e lírios.

uma voz eclode no meu pulso,
diz-me que a glória torna ossos em vidro
e vale menos do que que um instante de vida.
eu assobio a sangue frio.
adio a memória e deslumbro-me com as obras sem autor
selvas areais pedras montanhas
coberturas de deus como os corpos
que à noite mastigo intocada contra a fome.

(prefiro abismos solares, e mares e mares.

de artérias fendidas nas pálpebras, nas vértebras,
nos seios ao espelho,
vergo-me a esta paisagem que me transfigura,
trancada no túmulo de ar onde
os meus versos persistem redondos, sem surpresa.

e enfim ponho um sorriso nupcial neste rosto viscoso
como quando te via a morrer de sonhos e interminavelmente
remexias na mala à procura da pistola,
da esmola,
ou da esperança, ou do baton.

8 comentários:

Anónimo disse...

Pronto. A poetisa dos sonhos.

Anónimo disse...

Continuando. Tanto para dar mas parece que nada lhe corre bem. Alimenta-se do imaginário, do mundo virtual, do possível e impossível, até que algo entre nos eixos. Recomeça-se tudo de novo, as vezes que forem necessárias!

Berta Cem Mil disse...

Pronto. É onde posso ser toda e livre.

Berta Cem Mil disse...

Continuando. Sabe lá do que me alimento. Quem é você para me aconselhar?

Anónimo disse...

Vira fera quando lhe tocam no seu "eu", na sua liberdade.
Não se ofenda nem incomode. Eu não lhe dei nenhum conselho porque também não mo pediu. Apenas comentei.

Berta Cem Mil disse...

"Recomeça-se tudo de novo, as vezes que forem necessárias!" pareceu-me conselho, uma espécie de fórmula mágica para aplicar à vida. Talvez tenha interpretado mal, às vezes acontece.
Seja como for, não me ofendo nem incomodo, nem viro "fera", com tão pouco.
Obrigada por me ler, de qualquer modo, e comente sempre.

Anónimo disse...

Não. Agora tremo só de comentar. Fica o comentário básico, mais vulgar, fácil de interpretar: Escreve muito bem.

Berta Cem Mil disse...

Lamento que desista tão facilmente e não vença os tremores. Espero que reconsidere.
Obrigada.