à tua porta, tremendo de frio,
numa noite de lua cheia
a enganar a escuridão,
deponho o meu futuro,
com as mãos caídas, cativas na dúvida,
o sangue amotinado nas veias
o choro calado,
a clamar por ser grito, nos olhos.
consigo entrar,
tornada estilhaço transparente,
com o embalo do vento.
e de gestos recolhidos
vou-me insinuando para lá do discurso
para me infiltrar na tua insónia sem que notes
e de ti me alimentar mais uma vez.
já não tremo.
permaneço.
morro da vida que me dás a cada sopro
e descubro o modo de beber o céu
até me dissipar nos teus lábios
suspensos no meu nome.
depois sorvo o teu ser
quase por inteiro
nesse quarto íntimo onde não caibo
enquanto me fazes a cama com mil colchões
para que eu não te possa tocar.
lá no alto, porque sou uma verdadeira princesa,
ainda sinto nas costas
o teu imenso desalento,
disfarçado de ervilha nas frestas do soalho.
e só então pergunto,
descendo ao teu luto:
quando te vens deitar?
sábado, 9 de maio de 2020
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