terça-feira, 26 de maio de 2020

Pé de feijão


atordoada pela fome do teu corpo
trepei pelo caule interminável
que nasceu em pouco tempos
daqueles feijões mágicos,
com raízes no passado,
que me ajudaste a plantar.

de estômago embrulhado em fastio
uma nota de choro na garganta
o sexo sem fulgor
as pernas fraquejaram
um par de vezes
mas trepei e trepei,
sem olhar para baixo
não fosse sentir vertigens em estreia
como se não tivesse já dançado em câmara lenta
no topo dos arranha-céus
e atravessado nuvens,
funâmbula de improviso

cheguei arfante.
lá no alto,
não havia ovos de ouro nem harpas,
muito menos o declive do teu colo,
onde poderia deitar a cabeça
e descansar.

apenas o gigante coração
que um dia me prometeste
inquieto
pulsante
mas que para esta fome
do corpo não serve.

olho para ele, quase desfaleço
Mas ao menos o ar aqui é puro.
inspiro, expiro, hesito.

não sei se o atire,
se o abrace e tente descer.

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