segunda-feira, 23 de julho de 2007

A oficina

avançavas apressadamente para lugar nenhum e eu arranquei-te a desolação da alma e a droga dos bolsos das calças.
num instante de brilhante demência, cosi asas aos teus ombros, colei desejos túrgidos ao teu cérebro e tatuei botas de couro nos teus pés.
tu caminhaste para mim com um gesto de fuga a serpentear-te nos braços e um sorriso quase heróico no rosto.
confio-te os meus dias, disseste.
e eu disse: limpo o pó às tuas noites.
puxei as persianas das janelas, cobri a tua fome com papel de parede às riscas, acendi o pavio do teu coração desconexo com versos de lume esculturais.
e conduzi-te à minha oficina para te refazer.
hoje vou vender-te em leilão. já vales tanto como um matisse.

4 comentários:

Mei disse...

e então? rendeu bem?... :-P os teus versos em prosa são realmente de lume. esculturais.

um beijo para ti, artesã de prodígios.

Mei disse...

ah, e tenho-me embalado com a babyji. adorei ;)

Berta Cem Mil disse...

não rendeu nada: decidi não vender porque me desagradou a cara de quem estava a licitar... e, sabes como é, não entrego a minha obra a qualquer um.
ainda bem que gostaste do livro. um beijo, mei.

Anónimo disse...

Olha, mais um que gostei muito. *