segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Agosto

em agosto o teu corpo reluzia, pungente das gotas de sal a irromper pelos nossos poros como lágrimas dos olhos.
na tua água deslizava a minha esperança, no meu suor borbulhava o teu desejo.
e nenhum grito se repetia nunca.
a tua língua conseguia ser algodão doce a derreter na minha língua. e eu via-me numa festa da minha infância de açúcar e carrosséis musicais.
a tua pele conseguia ser uma sinfonia a soar na minha pele. e eu ouvia-nos no tempo a pulsar, entre arquejos suspensos e sonhos interrompidos.
e éramos um mundo. e éramos livres. e sobre nós brilhava andrómeda, orion e cassiopeia nas suas imobilidades trémulas mas constantes, em tudo diversas do teu coração moribundo, à espera de consolo no calor da tarde, à espera de conforto no refúgio fresco da noite, à espera que os segredos incandescentes do céu se misturassem com a vida vermelha que te corria nas veias, delgadas como cordas de violoncelo.
à espera. até seres quase só indolência e sensação.
o trabalho está feito, disseste.
deixa-me as ferramentas, disse eu.
tu tiraste o coração e embrulhaste-o na saia de praia, juntamente com as estrelas que me ensinaste, antes de partires para a beira-mar.
então a tua forma diluiu-se no horizonte.
e assim te tornaste um aceno de mão aberta, a sobrevoar-me para sempre neste verão de areia e vento.

2 comentários:

Anónimo disse...

O agosto � por defeito, a silly season.
o inverno � o que se sabe.
n�o h� sa�da... sen�o renascer de novo. quem seremos, ao faz�-lo?

Est� bel�ssimo.

Anónimo disse...

esta coisa tem um problema pior que o meu com os acentos...