fixaste o sorriso na minha boca e apressaste o passo na minha direcção. nem uma hesitação bulia no teu rosto. nenhuma gota de remorso atravessava os teus olhos. a saudade zurzia canções de mar nos teus ouvidos. pensaste em despir o casaco mas deixaste-o ficar, pendendo imóvel como um telhado inútil numa casa abandonada.
fechei o livro e não te abracei. abri a garrafa molhada do gelo que a protegia do calor de agosto e apontei-te a reles cadeira de plástico verde do terraço, recordando no meu íntimo os dias em que te comparava a todas as coisas belas do mundo enquanto tu pestanejavas e baixavas a cabeça, com os dedos enrolados no cós da camisola e os sons da cidade rodopiando aos teus pés.
conversámos e comemos. conversámos e bebemos. e conversámos. até começar a arrefecer e o horizonte engolir o sol. falaste-me dos países onde moraste, das mulheres com quem dormiste, das partidas e chegadas que te enrugaram, dos projectos que não terminaste, dos sonhos que perdeste, dos amigos que viste morrer, da interminável sucessão dos teus desgostos.
eu contei-te as minhas viagens interiores, muito brevemente, para não te aborrecer. e, de tão apegada à minha solitária nostalgia, não percebi que naquela tarde voltavas.
e tornaste a partir.
quinta-feira, 24 de maio de 2007
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3 comentários:
Oh dear, que confusão, não se percebe nada. Mas ainda bem que comentaste, sempre gostei do nonsense. Vou tentar comentar o teu também... não sei se conseguirei. tem graça teres começado no mesmo dia do que eu, não?
Beijos meus. E saudades, claro.
Olá, berta (s)cem mil.
Este comentário vem apenas (re)lembrar(-te) da intensidade que as tuas palavras transmitem a quem tem o prazer de colocar os olhos n'elas.
Gostei e voltarei. :)
Vertigem: não sei quem és, mas agradeço a visita. E sabes? A intensidade é uma armadilha. É preferível ser-se leve e feliz.
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