segunda-feira, 28 de maio de 2007

O divã

a ternura pingava-te dos dedos e os meus olhos paravam no astro essencial da noite.
o presságio gelado da manhã ainda me amargava a saliva, mas tinha os nervos e os ossos em paz. já não sentia os dentes da saudade a roê-los.
lembrei-me dos meus recorrentes sonhos contigo dentro e medi toda a amplitude da inutilidade deles naquele instante em que ali estavas, cintilante na tua nudez quente como um truque de ilusionismo.
sou um coração feliz, disse.
sou um corpo fragmentado, disseste.
como sempre, mentias menos do que eu.
demorei-me um par de minutos à roda da tua cintura, por magia espiralada.
e só voltei a falar quando retornei à minha forma habitual.
disse: és um oráculo de pele muda.
tu embrulhaste-me os ombros com as pernas e aquele divã de couro estalado tornou-se o lugar perpétuo do meu prazer.

4 comentários:

Anónimo disse...

olha, este está fabuloso.

Berta Cem Mil disse...

olha, eu sou fabulástica...

Unknown disse...

belas palavras! Parabéns ;)

Berta Cem Mil disse...

obrigada, june, volte sempre!