domingo, 26 de abril de 2020

Marcas


era um dia quente de outono
depois de uma noite feliz.

a cama ainda desarrumada,
as notícias lidas,
os copos por lavar,
os dentes escovados,
mais uns beijos e um ar de leveza,
o teu abraço a esculpir uma nuvem no meu ombro,
a minha face a deixar marcas na tua,
à nascença condenadas ao inevitável desaparecimento
como os pés na areia a caminho do mar.

estava a calçar os sapatos quando disseste,
mesmo que não fique contigo
vou amar-te para sempre.
e eu disse,
se não estiveres comigo,
para nada o teu amor servirá.

depois fomos dar um passeio,
como se fosse outro dia qualquer.

não era, mas eu não sabia
porque não percebi o que dizias.
que a expressão do amor é como deus,
intermitente,
e por mais que os joelhos se dobrem,
as mãos se unam,
as preces se repitam,
ora existe, ora não.

havia nas tuas palavras,
sei-o agora,
o prenúncio do silêncio
que por estes dias me obriga
a conjugar os verbos no condicional.
mas na hora seguinte,
mergulhada no momento,
era como se não te tivesse ouvido.

o passeio durou até de madrugada e até chegámos a dançar.

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