sábado, 18 de abril de 2020

Ilegível

bravas no primeiro passo,
logo nos acobardamos no seguinte,
presas afiadas,
tementes à loucura,
por hábito parceiras da solidão
em defesa do que somos,
uma no caos por poder,
outra na pressa por querer,
para lá do amor por cumprir.

há pequenos acontecimentos que persistem, dizes.
têm aparência humana,
em múltiplas combinações de corpos,
corações e mentes, digo eu,
no teu bairro, estrangeira
na tua casa, visita
na tua cama, sem descanso,
na minha natureza própria,
ilegível mesmo quando me prostro nua à tua frente.

nada há de objectivo no que sinto,
só que o amanhã me dói dos pés à alma,
tanto quanto ontem desejava abraçar-te uma e outra vez, digo agora.
não duvido, dizes tu, distante.

e a luz respira como no tempo das primeiras palavras,
enquanto o mundo desperta
de novo
não propício ao toque,
brincando connosco na sua impecável limpeza
de risos e beijos.

ainda te lembras da nossa velhice?

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